O objetivo do presente estudo foi testar se a infusão experimental de ácido intra-esofágico (0,1 N HCl pH 1.2) induziria ao bruxismo durante o sono e em caso afirmativo examinar o papel da migração de ácido proximal.
O procedimento experimental foi descrito através de uma amostra experimental, critérios de inclusão e exclusão, da análise das variáveis do sono (critérios da Associação Americana de Distúrbios do Sono), análise das atividades orofaciais, análise da migração de ácido proximal, ph intra-esofágico, análise estatística, assim como a descrição do sistema de gravação de dados.
O estudo foi realizado com 12 homens adultos saudáveis, estudantes da Universidade de Kagoshima, todos com dentição completa sem os terceiros molares. Nenhum dos indivíduos apresentava sinais ou sintomas de bruxismo, evidência ou história de doença gastrointestinal, azia, problemas de saúde mental, uso de medicamentos nos últimos 3 meses, obesidade ou doenças do sono.
Todos os participantes foram submetidos à monitorização polissonográfica completa consistindo em eletroencefalogramas, eletro-oculograma bilateral, eletromiogramas (mandíbula, masseter) e eletrocardiograma por 4 noites consecutivas num laboratório do sono. A função respiratória foi monitorada pela pressão do fluxo aéreo e saturação de oxigênio. Para avaliar os eventos de deglutição, foram gravados os movimentos da laringe com um sensor piezoelétrico que foi anexado à pele acima da cartilagem tireóidea.Gravações de áudio e vídeo da cabeça e parte superior do corpo também foram feitas para gravar movimentos laríngeos, orofaciais e ruído de ranger dos dentes.
Para avaliar o pH intra-esofágico foi colocado uma sonda de duplo-antimônio com uma porta de infusão, transnasalmente até o esôfago.
Dois sensores de pH (proximal e distal) e uma porta de infusão foram colocados a 20 cm, 5 cm e 10 cm acima da margem superior do esfíncter esofágico inferior, respectivamente (Fig A).O experimento foi realizado por 4 noites consecutivas, onde foi proibido o fumo, consumo de álcool e café e orientados a não comer ou beber após as 19hs.
A primeira noite foi de adaptação para eliminar efeitos artificiais, a segunda para estabelecer a linha de base (para diagnosticar possíveis distúrbios do sono, refluxo gastroesofágico, bruxismo…) e nas duas últimas noites os participantes foram divididos em 2 grupos aleatoriamente (cada grupo com um pesquisador) e foram realizadas as infusões ácidas (experimental) ou salinas (controle) à mesma temperatura, no esôfago. Num dia foram grupo controle e no outro experimental ou vice-versa (Fig B). Os participantes não tinham conhecimento da ordem das intervenções. Foram feitas até 3 infusões por noite em cada participante após 1 min e depois a cada 20 min ou até que o pH intra- esofágico estivesse maior que 4. As infusões foram aplicadas remotamente e só iniciadas após o 2°estágio do sono Não-REM, período que ocupa a maior porção da noite e onde os episódios de bruxismo são mais freqüentes.
Foi observado que as freqüências da Eletromiografia( EMG), episódios de atividade dos músculos mastigatórios (RNMA), ranger de dentes, relação RNMA / micro-despertares foi significativamente maior num período de até 20 minutos após a infusão ácida comparado à infusão salina. E concluem que episódios de ativação da musculatura mastigatória incluindo o bruxismo do sono foram induzidos pela acidificação esofágica.
Este foi um estudo muito bem conduzido, bem descrito, com um nível de concordância intra-observadores de 92%, bom nível de significância (p< 0,001) e que vem de encontro aos ensinamentos já ministrados na Formação Busquet que diz: “o bruxismo vem do abdômen” considerando que as tensões viscerais acionam num esquema de proteção (Influência do conteúdo sobre o contentor) a Cadeia Estática Visceral em seu nível superior (cadeia q vai do períneo ao nível da boca), assim como a Cadeia de Flexão que numa tensão excessiva estarão ativas mesmo à noite, provocando pequenos movimentos no nível da boca, denominados bruxismo. Prof Busquet também refere que o bruxismo é comum, por exemplo, em pessoas nervosas e a partir daí podemos pensar em diversos fatores que podem contribuir para essa proteção e acionamento das Cadeias e que podem chegar ao seu nível mais superior, como vimos de forma induzida no presente artigo. Com esta visão, o Método das Cadeias Fisiológicas orienta a nossa prática às causas das tensões que chegam à boca e não apenas aos seus efeitos, como vemos habitualmente os tratamentos serem direcionados.
Aline Abreu Lando Kenmochi
Prof. Assistente do Método Busquet – As Cadeias Fisiológicas