SCHLEIP, R. et al. Passive muscle stiffness may be influenced by active contractility of intramuscular connective tissue. Medical Hypotheses (2006) 66, 66–71. Quando os músculos são passivamente estirados eles exibem uma resistência mensurável, mesmo quando seus neurônios não estão ativados e suas fibras musculares não estão contraídas ativamente. Este comportamento é chamado de resistência muscular passiva. Desde a descoberta dos filamentos de Titina e sua alta propriedade elástica, tem sido comumente assumido que a resistência muscular passiva depende primariamente deste filamento intramuscular. No entanto, pesquisas recentes sugerem que esta resistência passiva também é influenciada pelo tecido conectivo muscular. Esta nova perspectiva é apoiada por conclusões de trabalhos envolvendo tenotomia, fasciotomia e aponeurosetomia, bem como estudos sobre a extensibilidade passiva dos músculos. Baseado nestas pesquisas prévias, os autores propõem a hipótese que o tecido conectivo intramuscular, e em particular o perimísio, pode ser capaz de contrair ativamente e, assim, adaptar a resistência tissular miofascial de acordo com o aumento da demanda tensional, especialmente em músculos tônicos. As evidencias para esta hipótese serão dadas a partir de cinco considerações: 1- Músculos tônicos contêm mais perimísio que músculos fásicos; 2- O perimísio é designado para servir a uma função de suporte de carga; 3- O perimísio pode ser caracterizado por uma alta densidade de miofibroblastos; 4- Os miofibroblastos permitem a fáscia contrair ativamente; 5- O perimísio exibe uma adaptabilidade de alta rigidez em resposta à estimulação mecânica. O tecido conjuntivo intramuscular é geralmente dividido em três camadas interligadas: o endomísio, que circunda cada fibra muscular; o perimísio, que separa e envolve feixes de fibras musculares; o epimísio, que envolve todo o músculo. É de interesse que os músculos tônicos contenham significativamente mais perimísio que os músculos fásicos. Isto pode estar relacionado com o aumento da demanda de oxigênio e de vascularização destes músculos, uma vez que o perimísio contém uma alta proliferação de vasos sanguíneos. Além disso, o aumento da espessura do perimísio fornece um útil efeito de amortecimento durante a contração muscular, embora este aumento também possa estar correlacionado com uma maior resistência passiva. A morfologia e o arranjo das fibras de colágeno no perimísio são diferentes do epi. ou do endomísio. Ele é constituído principalmente por fibras de colágeno com grande diâmetro, que estão arranjadas em uma estrutura cruzada com fibras paralelas em direções diferentes. Durante a contração ou o estiramento, a orientação destas fibras se modifica. A combinação destes recursos apóia a hipótese de que o perimísio é projetado para aumentar a rigidez muscular passiva e para servir a uma função de suporte de carga, prevenindo o excesso de estiramento das fibras musculares. Os fibroblastos são as células mais comuns do tecido conjuntivo. Dentre seus vários fenótipos, os miofibroblastos têm um interesse especial na contração do tecido. Estas células são identificadas por suas fibras de músculo liso, que fazem com que os miofibroblastos estejam bem adaptados para contrações isométricas de longa duração, exercendo um papel importante nas contraturas fasciais patológicas como a fibromatose plantar e o ombro congelado. A densidade de miofibroblastos nos tecidos conectivos tem sido relatada como sendo maior em regiões mais vascularizadas e em áreas com mais “frisos” conjuntivos. Por ser a camada intramuscular mais vascularizada e por exibir uma grande quantidade de “frisos” conjuntivos, sugere-se que exista mais miofibroblastos no perimísio do que nas outras camadas. Apesar de não ter nenhum resultado concreto em relação a isso, estudos preliminares com ratos apoiam esta suposição, pois demonstraram um aumento marcante de miofibroblastos no perimísio. Como tem sido sugerido nessa pesquisa, várias linhas de raciocínio e experimentos suportam a idéia de que a fáscia é capaz de contrair ativamente e, consequentemente, influenciar a dinâmica musculoesquelética. Um destes experimentos é o de Schleip et al., que através de uma análise imuno-histoquímica de 39 amostras de fáscia tóraco-lombar de 11 doadores humanos, demonstraram a presença generalizada de miofibroblastos em todas as amostras. Outros estudos com animais também foram realizados e ajudam a suportar a hipótese. Inúmeros exemplos demonstram que o perimísio se adapta mais facilmente às mudanças de tensão mecânica que os outros tecidos intramusculares. Um exemplo comum é o efeito de imobilização, que gera um enrijecimento do músculo quando este é imobilizado em sua posição de encurtamento. Isto se correlaciona com um aumento na fáscia intramuscular, que já pode ser percebido com dois dias de imobilização. Este processo de enrijecimento fascial induzido pelos miofibroblastos parece ter uma resposta em U, uma vez que tanto a ausência como o excesso de tensão mecânica, pode aumentar a rigidez do tecido. Por fim, os autores sugerem que o tratamento com técnicas de liberação teciduais profundas, que influenciam na contratilidade celular, podem ser úteis em condições onde existam músculos cronicamente encurtados, como na distrofia muscular espástica e outras situações similares. Além disso, relatam que o tratamento pode ser assistido nutricionalmente com o uso de substâncias como a L-arginina, que aumenta a presença de oxido nitroso e, portanto, estimula o relaxamento dos miofibroblastos. Achei bastante interessante as hipóteses levantadas pelo artigo. Penso que elas ajudam a embasar ainda mais a importância do tratamento da Cadeia Estática Musculoesquelética, proposta por Leopold Busquet. Sabendo que esta cadeia tem uma importante função de suporte e que todas as cadeias musculares se inserem sobre ela, inibir a ação ativa dos miofibroblastos nas aponeuroses que a compõem, se torna um trabalho preparatório imprescindível. Além disso, acredito que a contração ativa do perimísio pode ter um papel importante na “memória tensional” do tecido conjuntivo. Pois, mesmo depois que o fator causal de uma tensão muscular foi inibido, o tecido conjuntivo pode manter uma tensão ativa devido à ação dos miofibroblastos. Dessa maneira, fica clara a importância do trabalho de desprogramação muscular, mesmo após as tensões causais (geralmente viscerais) terem sido tratadas. Murilo De Marco Prof. Assistente da Formação Busquet no Brasil.
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