Neste estudo, STOKES et al faz a análise dos efeitos dos diferentes padrões de ativação muscular abdominal na estabilidade da coluna vertebral. Os resultados teriam o intuito de testar a hipótese que ocorreria um aumento de tal estabilidade na ativação muscular de 10% ou 20% de ativação máxima. Já que programas de reabilitação têm sido propostos para melhorá-la via recrutamento seletivo de certos grupos musculares do tronco.
O modelo biomecânico anatomicamente realista inclui a curva da ativação muscular forçada de cada um dos componentes da parede abdominal (os transversos, oblíquos internos e externos e reto abdominal) e 77 pares simétricos dos músculos dorsais. As ativações musculares foram calculadas com o modelo carregado em flexão, extensão, inclinação lateral e rotação axial do tronco/ momentos, em incremento de 20 Nm até 60 Nm. Juntamente a pressão intra-abdominal (PIA) com até 5 ou 10 kPa e peso corporal parcial (340 N).
Após definir as forças para os músculos atingirem o equilíbrio estático em cada caso de carregamento, realizou-se uma análise quantitativa de “flambagem” (instabilidade) da coluna vertebral. Em seguida, diferentes padrões de ativação muscular foram estudados, forçando a ativação de determinados músculos abdominais para pelo menos 10 % ou 20% da máxima.
O “Baseline modelo” previu que a estabilidade da coluna vertebral estava em média 1,8 vezes maior com a duplicação da PIA. Verificou-se também que forçando a ativação de pelo menos 10% dos músculos oblíquos ou transverso abdominal houve ligeiro aumento da estabilidade durante os esforços, exceto na flexão do tronco. Mas, forçando 20% de ativação dos mesmos, não houve acréscimo na estabilidade. Na análise dos músculos reto abdominais, constatou-se que sua ativação forçada não têm nenhum papel na estabilidade da coluna vertebral. Isso lança dúvidas sobre o mecanismo de ação proposto por programas específicos de estabilização da coluna lombar no tratamento da lombalgia.
O próprio autor relata que, baseado em estudos anteriores, era esperado um aumento da estabilidade lombar com a ativação da musculatura abdominal. A diferença é que nestas análises anteriores não houve a interação com a PIA, fator que acrescentou um realismo fisiológico no presente estudo. Assim, constatou-se que qualquer ativação antagônica destes músculos são necessariamente associada a um aumento de pressão intra-abdominal.
Analisando as questões levantadas nesta pesquisa, podemos nos questionar em alguns aspectos: o que realmente determina a estabilidade da coluna vertebral? A fraqueza é a verdadeira causa das dores lombares? Qual é a função destes músculos chamados de “estabilizadores” da coluna?
Segundo Busquet 2001, os músculos não foram feitos para a função estática, e se isso acontece, eles atrofiariam e evoluíriam para tornar-se tecido conjuntivo. Mas, considerando que a nossa estática é baseada em um desequilíbrio anterior, existem os músculos do reequilíbrio (paravertebrais) que funcionam como “rajadas” para gerenciar tanto a estática como também para coordenar os movimentos dinâmicos. Estes músculos não precisam ser fortes e nem muito rápidos.
Esse mesmo autor acrescenta que o nosso equilíbrio em pé é construído sobre a cadeia estática posterior e pelos apoios hidropneumáticos (diafragma sobre as vísceras). Quando o diafragma se contrai, a resultante dirigi-se para frente e para baixo em direção a parte infra-umbilical do abdômen onde o músculo transverso e piramidal do abdômen respondem ritmicamente a esse aumento da PIA. Esses apoios hidropneumáticos também se adaptam e estabilizam a coluna nos movimentos dinâmicos.
Lederman 2010, cita em uma revisão bibiliográfica sobre estabilização do tronco, que precisamos apenas de 2 à 3% de contração máxima do tranverso do abdômen e menos de 1% de co-contração dos músculos flexores e extensores para nos manter em pé.
Com essas informações podemos concluir primeiramente que o transverso do abdômen não tem função de movimento e sim de regulação da PIA. E, que os músculos que eram considerados como estáticos e “estabilizadores da coluna” são na verdade músculos do reequilíbrio.
Então, é importante colocar em evidência que qualquer alteração no conteúdo abdominal (retrações ou congestões) geram adaptações das cadeias musculares e de toda nossa estática. Por exemplo, se tivermos uma retração abdominal, o transverso do abdômen será solicitado concentricamente junto com a cadeia de flexão e os mutifidos excentricamente, e se isso se mantiver, haverá o enfraquecimento desse conjunto por excesso de trabalho e como conseqüência a dor lombar. Então, a solução mais coerente não seria o fortalecimento destes músculos e sim a liberação das tensões intra-abdominais para que o corpo encontre naturalmente sua verdadeira vocação.
Diante dessas discussões, entende-se que a leitura deste artigo é de extrema importância para todos profissionais que trabalham diretamente com as queixas de “dor lombar” em seus consultórios. Pois, todas as colocações foram baseadas na análise da anatomia e fisiologia e devem ser consideradas para realização de novas pesquisas.
Merielen Machado
Prof.(a) Assistente da Formação Busquet no Brasil