Dor lombar não é falta de força, mas uma alteração no recrutamento dos músculos

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HODGES, P. W.; RICHARDSON, C. A. Altered trunk muscle recruitment in people with low back pain with upper limb movement at different speeds. Archives of Physical MedicineRehabilitation, 1999; 80: 1005-1012.

O Método Busquet, baseado na fisiologia, defende que os músculos devem estar livres de tensões parasitas, a fim de poderem desempenhar suas funções dentro de um padrão de recrutamento considerado normal. Portanto, é interessante comparar os achados do estudo citado acima com os princípios propostos pelo Método. O trabalho teve o objetivo de comparar a atividade eletromiográfica dos músculos do tronco em indivíduos com e sem dor lombar em relação a três diferentes velocidades de movimentação do braço. Foram analisados dois grupos de 14 indivíduos cada com características similares em relação à média de idade, do peso, à divisão por sexo etc.

Um dos grupos foi formado por participantes com dor lombar, que se queixassem de dor lombar contínua ou que tivessem sofrido ao menos um episódio insidioso de dor lombar nos últimos 18 meses com necessidade de auxílio médico ou de outras práticas de saúde e necessidade de faltar ao trabalho por, no mínimo, três dias. Além disso, no momento dos testes, esses participantes deveriam estar sem dor. O outro grupo, sem dor lombar, serviu de controle e contou com indivíduos que não haviam se queixado de episódios de dor capazes de limitar a função ou que tivessem levado à necessidade de auxílio médico ou de outras práticas de saúde.

Os seguintes músculos foram analisados eletromiograficamente: transverso abdominal, oblíquo externo do abdômen, oblíquo interno do abdômen, reto abdominal, eretor da espinha e deltoide anterior. Os participantes realizaram a flexão do ombro direito em três velocidades diferentes, sendo a velocidade baixa capaz de percorrer 60º de amplitude em aproximadamente dois segundos, a velocidade intermediária condizia com a velocidade normal de movimentação do indivíduo e, na velocidade alta, o movimento era realizado o mais rápido possível. Foram analisados o tempo de reação e a latência entre o sinal eletromiográfico do deltoide e de cada músculo do tronco avaliado.

Os resultados desse estudo apresentaram características interessantes. Primeiramente, a mais “polêmica” foi não ter havido diferença na latência ou no tempo de reação dos músculos analisados nos dois grupos durante a realização da flexão do ombro em baixa velocidade. Nas discussões, os autores enfatizam que tem sido sugerido que as propriedades viscoelásticas dos tecidos são suficientes para manter a estabilidade quando as forças perturbadoras são “pequenas”. Logo, é possível notar uma ideia comum entre os autores e os princípios do Método Busquet no que se refere à importância das propriedades viscoelásticas dos tecidos, fazendo menção aos apoios hidropneumáticos e à cadeia estática conjuntiva, ou seja, estruturas responsáveis pela função estática do corpo humano e que não contam com a participação de elementos contráteis.

Além disso, também foi verificado um atraso na ativação do transverso abdominal e do oblíquo interno do abdômen no grupo com dor lombar durante a flexão do ombro em alta velocidade. E, na flexão do ombro com velocidade intermediária, foi verificado um atraso do sinal eletromiográfico apenas do transverso do abdômen no grupo com dor lombar. Durante as discussões dos achados, os autores concluem que essas discrepâncias nas respostas dos músculos do tronco evidenciam uma mudança na estratégia utilizada por pessoas com dor lombar para proteger e controlar a coluna e, mais uma vez, é possível perceber a afinidade com o que é proposto pelo Método, ou seja, as superprogramações musculares consequentes às tensões internas levam os músculos a modificar a essência da sua fisiologia, alterando o padrão de recrutamento normal.

Em um outro ponto bastante relacionado com as ideias difundidas por Léopold Busquet, os autores enfatizam a desvantagem mecânica do transverso abdominal e da porção inferior do oblíquo interno do abdômen para controlarem diretamente forças reativas na coluna e comentam sobre os questionamentos surgidos recentemente em relação à real capacidade do transverso do abdômen em realizar a rotação do tronco. Acrescentam que tem sido sugerido uma contribuição do transverso abdominal para “estabilizar” a coluna e a pelve através de um aumento da pressão na cavidade abdominal e um aumento do tensionamento sobre a fáscia toracolombar. O Método insiste, há muito, que o transverso abdominal não possui uma função verdadeiramente cinesiológia, mas sim de participar da regulação da pressão abdominal.

Os autores finalizam as discussões comentando que a maioria dos estudos investigam a função dos músculos do tronco com o foco na força e na resistência, mas poucos trabalhos investigam o padrão de recrutamento desses músculos em indivíduos com dor lombar e comentam também que fica clara a manutenção do padrão alterado de recrutamento mesmo quando essas pessoas estão sem dor e que os mecanismos geradores dessas alterações não são achados na literatura. De uma maneira simples, a relação contentor-conteúdo é capaz de explicar esses mecanismos, os quais são as tensões centrípetas ou centrífugas que levam às superprogramações musculares, sendo estas as responsáveis pela alteração no padrão de recrutamento muscular mesmo quando o indivíduo está sem queixa de dor.

Ao analisar a relação dos achados desse estudo com os princípios do Método Busquet, baseados inteiramente na anatomia e na fisiologia, é curioso notar que muitos deles estão de acordo e que os próprios autores já comentaram favoravelmente sobre várias dessas hipóteses durante a discussão dos achados. A observação de alguns pontos isoladamente permitiu abordar de maneira mais profunda cada um deles. Portanto, fica realmente claro que a causa do problema não está na capacidade de torque desses músculos, mas na liberdade de ação para produzir um padrão de recrutamento adequado.

Paulo Bastos

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