Exercícios de estabilização da coluna são eficazes?

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STANDAERT, C. J. Core stabilization for low back painperformance. SportOrthoTrauma, 2011, 27: 92-98

Diante da ampla utilização de exercícios de estabilização da coluna como medida terapêutica para a dor lombar, é importante buscar na literatura científica os resultados que comprovam tal eficácia. A revisão bibliográfica resenhada teve esse objetivo e os achados científicos parecem não estar de acordo com a rápida e vasta utilização dessas medidas na prática clínica.

Através de uma análise histórica, é possível perceber a sucessão de teorias até chegar ao início do conceito de estabilização da coluna através dos músculos transverso abdominal e multífido lombar. Muitos desses trabalhos foram unidos em uma única publicação e passaram a constituir um programa de treinamento (RICHARDSON & JULL, 1995). O programa propõe um treinamento através de uma contração isométrica dos músculos abdominais, com foco no transverso abdominal e no multífido lombar, baseando-se na teoria de que a ativação desses músculos é a unidade funcional básica de uma habilidade de movimento. Apesar de esse programa ter sido derivado de um conceito teórico e ser apenas uma proposta descritiva sem dados experimentais específicos,  mesmo assim, tornou-se a base para programas de estabilização da coluna, sendo amplamente citado como referência nas publicações que recomendam esses exercícios.

Apenas pequenos estudos sem controle rigoroso parecem mostrar uma eficácia terapêutica dos exercícios propostos pelo programa de treinamento citado acima. Porém, ao levar em consideração os grandes trabalhos randomizados e controlados, as conclusões são muito claras: “os exercícios de estabilização não proporcionam benefício adicional aos pacientes com dor lombar quando comparados à fisioterapia convencional (CAIRNS, FOSTER & WRIGHT, 2006)”, “exercícios de estabilização são mais efetivos do que intervenções mínimas, porém não mais efetivos do que outra intervenção da fisioterapia (KRIESE et al, 2010)”, além de vários outros estudos com conclusões semelhantes. Esses achados reforçam um questionamento amplamente divulgado pelo Método Busquet, o qual se baseia na busca pela causa das disfunções, pois o fato de não haver nenhuma eficácia adicional em relação às práticas convencionais levanta a dúvida se realmente vale a pena utilizar tais métodos com medida terapêutica.

Dois outros temas abordados pelo estudo se relacionam intimamente com as ideias propostas por Léopold Busquet. A primeira associação se faz em torno do vasto número de trabalhos que rejeitam a ideia de apenas um músculo (transverso abdominal ou multífido lombar, por exemplo) exercer um papel único no suporte da coluna e, além disso, um estudo importante  mostrou que a ativação do transverso abdominal apenas contribui com 0,14% da estabilidade alcançada com uma contração abdominal total (GRENIER & MCGILL, 2007). Diante desses dados, é impossível não questionar o porquê de focar o treinamento muscular apenas sobre o transverso abdominal, além de evidenciar a organização em cadeia do sistema muscular. A outra associação com os princípios do Método Busquet se faz com a categorização de lombalgia como diagnóstico, quando na verdade é um sintoma. Os autores levantam também a importância para a individualidade de cada paciente, sendo impossível formar um grupo de estudos homogêneo para investigar o tratamento da lombalgia, pois haverá causas muito diversas para o mesmo sintoma.

No que se refere aos exercícios de estabilização utilizados para o programa de treinamento de atletas, os autores também mostram que não há um consenso científico quanto à eficácia desses exercícios quando comparados a exercícios convencionais. Acrescentam ainda que os próprios modelos de descrição do “core” são muito diversificados e não seguem uma padronização. Mais uma vez, mesmo dentro de um trabalho com o objetivo de melhorar a performance de atletas de alto nível, não é comprovada cientificamente a eficácia de tais exercícios, sendo cada vez mais substituídos por treinamentos funcionais sem exigência de focar a contração em determinado grupo muscular, mas sim no objetivo do esporte. Afinal de contas, por exemplo, será que um tenista de alto nível, no momento que bate na bola com toda a força exigida pelo esporte, está “pensando” em contrair os músculos abdominais? E mesmo para aqueles que defendem a transmissão de um padrão automático de contração após os treinamentos de estabilização, também já ficou evidenciado que o tempo de resposta a uma contração voluntária é muito maior do que o exigido pela estabilização “inconsciente” que acontece durante a prática esportiva.

Referências:

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Paulo Bastos
Professor Assistente do Método Busquet

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